E, NO ENTANTO, É PRECISO SONHAR
No Diàrio de Notícias Baptista-Bastos Escritor e jornalista - b.bastos@netcabo.pt Olho lá para baixo e há muitas coisas, vozes, rostos e infâmias oblíquas que já foram. O tempo não mata as dores: adormece-as. Nada é para sempre. Chega-se ao fim do ano e os homens antigos e experimentados sabem que as lembranças adquirem uma simplicidade contrária ao ressentimento. Todavia, foi um áspero, infausto e rude ano, este, que vai embora. Houve uma época em que, com alvoroço e arfante ansiedade, escrevi: "A esperança tem sempre razão." O sonho andava à solta e eu ainda não aprendera a natureza dos perigos contidos no sonho. Mas havia sempre alguém sorrindo para mim e um horizonte luminoso à nossa espera. Reconheço, com tristeza, que a frase era um pouco imprudente, embora, talvez, nos lavasse moderadamente a alma. Chegamos a hoje e, num bulício de fé, repetimos os pedidos do ano passado, embalamos os desejos do último dia do último Dezembro, esquecidos de que a doçura e a clemência de